Veja em quais situações você pode ou não doar sangue
Um gesto simples, rápido e seguro, capaz de salvar até quatro vidas com uma única ação. A doação de sangue é um poderoso instrumento de solidariedade quando o assunto é saúde. No entanto, garantir os estoques para atender pacientes em cirurgias, vítimas de acidentes e pessoas em tratamento contra doenças graves é um desafio persistente.
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde (MS), apenas 1,6% da população é doadora de sangue. Apesar desse percentual ficar dentro do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) — que indica como ideal uma população doadora entre 1% e 3% —, os hemocentros no país seguem enfrentando o problema dos baixos estoques. Para reverter esse cenário e ampliar o número de doadores, o caminho é vencer a desinformação.
“Existem muitos mitos em torno da doação de sangue, e isso acaba afastando pessoas que poderiam ser doadoras”, comenta a doutora na área da saúde e professora do curso de Farmácia da UniSociesc, Gabriela Kozuchovski Ferreira. A especialista esclarece que não há segredo para a doação: “Para doar, basta ter entre 16 e 69 anos, pesar mais de 50 quilos, estar em boas condições de saúde, estar alimentado, ter dormido pelo menos seis horas na noite anterior e apresentar um documento oficial com foto”.
Mitos que afastam doadores
Entre os mitos mais comuns, está a ideia de que doação pode “afinar” ou “engrossar” o sangue ou, até mesmo, causar algum tipo de vício. “Nada disso é verdade. O organismo repõe rapidamente o sangue doado, então não existe nenhum tipo de dependência fisiológica associada”, afirma Gabriela Kozuchovski Ferreira, enfatizando a segurança do procedimento.
Outro receio recorrente é o de que a coleta provoca dor ou efeitos colaterais prolongados. “A sensação é apenas a de uma picada de agulha. A coleta dura em torno de dez minutos, seguida por um período de descanso de cerca de 15 minutos e um lanche. O corpo se recupera rapidamente, e raramente há outras consequências. Quando acontecem, podem ser tontura leve ou fraqueza passageira, facilmente contornadas com repouso e hidratação”, detalha a profissional.
Quem pode doar sangue?
Além dos requisitos básicos, algumas situações geram dúvidas entre os candidatos a doadores. Pessoas que fizeram tatuagens ou colocaram piercings, por exemplo, podem doar sangue, desde que respeitado o período de seis meses após o procedimento. Caso o piercing tenha sido colocado em regiões de maior risco, como boca ou genitais, o prazo sobe para 12 meses.
Quem usa medicamentos precisa passar por avaliação. “Em muitos casos, é possível doar. Anticoncepcionais, vitaminas e remédios leves não são impeditivos. Mas o uso de antibióticos, anticoagulantes, quimioterápicos e determinados medicamentos psiquiátricos podem impossibilitar a doação temporária ou permanentemente”, explica a professora.
Outro ponto que gera confusão é a relação entre doação e covid-19. “Quem teve a doença pode doar 10 dias após a recuperação completa, sem sintomas. Já no caso das vacinas, basta aguardar 48 horas após a aplicação da dose contra a covid-19 ou até sete dias, dependendo do tipo de vacina”, orienta Gabriela Kozuchovski Ferreira.

A importância dos diferentes tipos sanguíneos
Os bancos de sangue precisam de todos os tipos sanguíneos, mas os negativos são os mais escassos. O negativo, conhecido como doador universal, é especialmente valioso, pois pode ser usado em qualquer paciente. “Mas, independentemente do tipo, toda doação é fundamental. O equilíbrio dos estoques depende da diversidade de doadores”, reforça a especialista.
Em cada coleta, são retirados cerca de 450 ml de sangue, quantidade que o corpo repõe em até 24 horas. Já as células vermelhas levam cerca de 30 dias para serem regeneradas. Por isso, existem intervalos entre as doações: os homens podem doar a cada dois meses, até quatro vezes ao ano; as mulheres, a cada três meses, no máximo três vezes por ano, devido à perda natural de ferro decorrente da menstruação.
Um gesto que multiplica vidas
O sangue coletado não é utilizado de forma única. Ele é separado em diferentes componentes — como hemácias, plasma, plaquetas e crioprecipitado —, que podem atender pacientes com diferentes necessidades, desde pessoas em quimioterapia até vítimas de acidentes graves. Dessa forma, uma única doação pode salvar até quatro vidas.
Para Gabriela Kozuchovski Ferreira, vencer o medo e a desinformação é o primeiro passo para aumentar o número de doadores. “Doar sangue é um gesto simples e extremamente seguro. Em menos de uma hora, podemos ajudar até quatro pessoas. Quem doa, salva vidas e espalha esperança”, conclui.
Por Genara Rigotti
Fonte: Portal EdiCase